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Apesar de ser visto como um evento inevitavelmente traumático para os filhos, o divórcio não precisa ser um bicho de sete cabeças, diz a psicóloga Maria Dolores Cunha Toloi. Como assistente de perícias psicológicas no Tribunal de Justiça de São Paulo, ela vivencia há 15 anos o cotidiano das brigas familiares.
Em seu doutorado, ela buscou entender como os "filhos do divórcio" compreendem e enfrentam esses conflitos conjugais. A pesquisa, com adolescentes entre 13 e 16 anos, deu origem ao livro Sob Fogo Cruzado. Conflitos Conjugais na Perspectiva de Crianças e Adolescentes. Mais que a separação em si, diz ela na entrevista a seguir, é o alto nível de conflitos entre os pais o grande causador de danos cognitivos e psicológicos nas crianças.
O que mais lhe chamou a atenção na pesquisa com os jovens?
O alto nível de agressividade e a tolerância existente nas famílias de classe média a essa agressividade. É o mesmo nível de violência - psicológica, verbal e física - que vejo nas perícias judiciais. Muita chantagem emocional, muita ameaça. Entre os pais e entre pais e filhos. Foi um descortinar da violência na classe média. Os jovens, como a maioria das pessoas, associam conflito à violência. Mas uma coisa não tem necessariamente a ver com a outra. Conflito é inerente ao ser humano, todos temos conflitos pessoais e nos relacionamentos. A violência é a maneira como alguns lidam com o conflito. Quanto maior a relação hierárquica entre as pessoas, maior a tendência à violência. Quando pai e mãe têm relações mais igualitárias, o nível de violência é menor.
É possível para os filhos saírem ilesos de um divórcio?
De um divórcio, sim, mas de uma relação com alto nível de conflito, não. Antigamente, o divórcio era visto como um evento sempre traumático para a criança, que causava efeitos deletérios para o resto da vida. Pesquisas sugerem hoje que, embora o divórcio cause uma série de crises na família - como declínio econômico, eventos estressantes, problemas de saúde dos pais -, em cerca de dois ou quatro anos todos se adaptam ao novo sistema. O problema, na verdade, não é o divórcio. As pesquisas sugerem que o alto nível de conflitos entre os pais e o padrão de resolução desses conflitos é a causa de grandes danos cognitivos e emocionais nos filhos. E o dinheiro é a principal causa.
O que significa alto nível de conflito?
O conflito começa com a discórdia verbal, que é normal em todos os relacionamentos. No nível seguinte vem a violência verbal, depois abuso psicológico, violência física e sexual. No Judiciário, quando o nível de conflito é alto, costuma ocorrer o que chamamos de síndrome da alienação parental, cada vez mais comum no Brasil.
O que é essa síndrome?
Em geral acontece no contexto materno, pois na maioria dos casos a guarda fica com a mãe. Ela vai doutrinando a criança contra o pai. A criança começa a se recusar a vê-lo. Isso num nível leve. No moderado, a mãe começa efetivamente a impedir a criança de ver o pai. Diz que ela está doente, inventa mil desculpas. Nos casos mais graves, a mãe chega a fazer denúncias falsas de abuso sexual. Isso faz com que o juiz suspenda as visitas até que a família passe por uma avaliação psicológica. Mas isso demora. Seis meses ou um ano na vida de uma criança é muito tempo. Ela vai se distanciando do pai. Nesses casos o Judiciário precisa intervir, pois a mãe tem uma patologia, uma personalidade psicopática.
Quais danos esses conflitos podem causar às crianças?
Problemas como baixa autoestima, depressão, dificuldade de confiar em si mesmo são comuns. Pais que brigam muito tendem a brigar mais com os filhos. Essas crianças acabam com uma visão negativa dos relacionamentos, com medo de se entregar. Filhos de pais divorciados têm mais chance de se divorciar também. Outro problema é a perpetuação da violência, pois eles reproduzem o modelo de resolução de conflitos que aprendem na família.
Como evitar que as crianças sejam afetadas?
No Judiciário analisamos o divórcio em relação aos fatores de risco e de proteção para os filhos. A idade da criança, por exemplo, pode ser um aspecto de risco, mas se ela tem uma mãe maravilhosa, que atende a todas as suas necessidades e não mistura a conjugalidade com a parentalidade, isso compensa a idade. Esses fatores abrangem questões genéticas, o perfil psicológico da criança, os recursos emocionais que os pais possuem para lidar com as mudanças, o nível socioeconômico da família após a separação. Drogas podem ser um fator de risco, como para qualquer criança. Abandono, maus-tratos, negligência. É preciso avaliar quem é a figura de apoio na casa para a criança. Ser for o pai, por exemplo, não seria aconselhável a guarda ficar com a mãe. O ideal seria a guarda compartilhada.
Existe uma idade mais crítica?
Sim, entre 6 e 9 anos. Na maioria dos casos, a criança perde o contato com um dos genitores após o divórcio. Nessa faixa etária, ela já tem uma ligação afetiva muito forte com esse genitor e sabe que isso vai mudar, mas não tem controle da situação, não sabe como vai acontecer. Tudo depende de como os pais conduzem o processo.
Há um sistema de guarda mais indicado ou varia caso a caso?
Varia sempre. Quando os casais têm baixo ou médio nível de conflito, o melhor é a guarda compartilhada. Mas, quando o nível de conflito é alto, isso fica inviável.

Pai e Filho de mãos dadas“Há um grande desconhecimento em relação à importância da função paterna dentro da família. Nas relações entre mãe e pai, existe uma dinâmica que é alterada com a vinda de um filho. Por outro lado, o pai tem uma função muito importante na formação da personalidade e no aspecto emocional da criança”, afirma o psicanalista Rubens de Aguiar Maciel. Durante a entrevista que concedeu à IHU On-Line, por telefone, ele falou sobre as transformações que o papel do pai vem sofrendo nas últimas décadas.

Maciel analisou as pesquisas que são feitas no Brasil sobre a paternidade, sobre como as mulheres tratam o tema e também sobre a ausência do pai e a influência que o filho traz para o homem enquanto pai. “Hoje há alguns movimentos que procuram auxiliar os homens nesta tarefa de pai, ainda são poucos, mas existem grupos que se organizam no sentido de fazerem turmas de pais, de casais, onde vão discutir a questão da paternidade e do cuidado com os filhos. É algo que precisa ser incentivado e divulgado”, destaca.

Rubens de Aguiar Maciel é psicólogo e psicanalista. Atualmente, é professor na Universidade de São Paulo (USP) e colaborador do Hospital das Clínicas de São Paulo. É considerado um dos poucos especialistas do país na questão da paternidade.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Por que há tão poucas pesquisas sobre o tema da paternidade?


Rubens de Aguiar Maciel – O pai ficou em segundo plano nas investigações científicas e na sua relação com os filhos. Isso talvez porque a presença do pai dentro da família tivesse um papel um pouco mais distante até pouco tempo atrás. Há algumas décadas, o pai não era tão solicitado, como é hoje, para conviver no aspecto emocional com seus filhos e com a mulher. Ele cuidava muito mais do trabalho e de prover a família financeiramente. A parte da educação moral e dos cuidados com os filhos sempre ficou mais com a mãe. Por isso, a relação mãe-criança, mãe-bebê era mais intensa e mereceu mais estudos. Com as transformações econômicas, sociais e dos costumes, o pai hoje participa de uma maneira muito mais intensa e, acredito que, por esta razão, o interesse pela figura e função do pai na formação da personalidade da criança começou a crescer.

IHU On-Line – Quais são as transformações do papel do pai?

Rubens de Aguiar Maciel – Historicamente, o papel do pai sofreu transformações radicais de fato. Na pré-história, sabia-se que o filho tinha uma ligação com a mãe, já que provinha dela. Mas, em um passado remoto, não se tinha a ideia de que o pai fosse responsável pela fecundação. A mãe poderia engravidar pelos espíritos, antepassados ou por tocar em um animal ou em um mineral, de maneira que o pai não tinha a consciência do seu vínculo genético com o filho. Acredito que, por essa razão, a responsabilidade do pai era quase que nula. As coisas foram se transformando, e se descobriu, aos poucos, que a gestação era proveniente de uma união sexual e, desta forma, o pai tinha participação na concepção da criança. Assim, a responsabilidade e a ligação começaram a se estabelecer de maneira mais forte.

Mesmo assim, ainda em épocas longínquas, os grupos sociais eram muito extensos. A criança convivia com uma família extremamente numerosa, muitas vezes, convivia com uma variedade de empregados e funcionários da casa ou das propriedades. A criança sofria influências dessas inúmeras figuras. Com as transformações socioeconômicas, os grupos foram se tornando menores, até se reunirem no que hoje conhecemos como família nuclear, esta é constituída por pai, mãe e filhos, e, às vezes, alguns agregados. Mas o grupo familiar se tornou muito mais restrito, de maneira que a criança passa a ver o pai, a mãe e os irmãos como figuras de referência, e essas assumem uma importância de maior peso.

IHU On-Line – A paternidade é um tabu para as mulheres?


Rubens de Aguiar Maciel – Há um grande desconhecimento em relação à importância da função paterna dentro da família. Nas relações entre mãe e pai, existe uma dinâmica que é alterada com a vinda de um filho. Por outro lado, o pai tem uma função muito importante na formação da personalidade e no aspecto emocional da criança. Como os estudos não são muito extensos e aprofundados, se conhece pouco sobre isso, tanto a mulher quanto a sociedade de uma maneira geral. Na comunidade científica, isso também acontece, na medida em que os estudos não são muito extensos e abundantes. Iniciou-se, em vários outros países, algumas pesquisas que voltam suas atenções e esforços no sentido de olhar para a questão da paternidade, dentro da dinâmica familiar e na constituição emocional do filho.

IHU On-Line – A mãe tem influências no exercício da paternidade?

Rubens de Aguiar Maciel – Se for uma mãe amadurecida e segura emocionalmente, ela irá incluir esse pai, na relação com o filho, de uma maneira positiva. Entretanto, se essa mulher não é razoavelmente madura e se sua relação com o marido não está indo muito bem, pode haver uma tendência da mulher se unir ao filho e excluir o pai. É como se ela fizesse um pacto com o filho por várias razões, por ciúmes ou insegurança do marido, e, desta forma, prejudica o bom vínculo com a criança. Em outros casos, se a mulher é muito ansiosa, ela se volta de uma maneira extremamente exagerada para sua maternidade. Passa a ter um cuidado excessivo e, às vezes, desnecessário. A mãe acaba retirando a atenção de muitas outras coisas e principalmente do marido, que acaba se ressentindo disso. São mulheres que, por exemplo, não podem ter uma vida sexual, que procuram exercer cuidados exagerados com a sua saúde, que não tem uma vida social, se voltam exclusivamente para a gestação, de uma maneira que acaba excluindo o marido do convívio emocional com ela.

IHU On-Line – Quais as diferenças entre o papel e a função de pai?

Rubens de Aguiar Maciel – O papel está mais voltado para as expectativas sociais, culturais e morais de como o pai deve se comportar em relação à sua família e seu filho. Nesta medida, ele deve ser um provedor material, de educação, saúde etc. Inclusive, do ponto de vista legal, há uma lei, que está tramitando no congresso, que irá permitir aos filhos que processem seus pais por ausência afetiva, por falta de amparo afetivo. Porém, esses aspectos são relativos ao papel do pai, é o que se espera que o pai desempenhe. A função do pai diz mais respeito à formação emocional e da personalidade da criança.

O pai vai surgir como um exemplo em muitos aspectos para o filho. Vai surgir como aquele que deve estimular a criança a sair do vínculo simbiótico com a mãe. O pai irá induzir a criança para que ela vá se desligando da mãe, e vá se introduzindo na sociedade. A tendência natural da criança é estar grudada com a mãe o tempo todo, ser o centro das atenções e ter a mãe como objeto de seu controle. Se ela chora ou quer carinho, a mãe estará lá. O pai será aquela pessoa que dirá: “Ela é sua mãe, mas também é minha mulher. Ela é sua mãe, mas também é mãe dos seus irmãos. Você precisa substituir sua mãe, temporariamente, pelo pai ou por algum brinquedo”. Desta forma, o pai vai colocando a criança no convívio com a sociedade e vai fazendo com que ela aprenda a dividir esse amor simbiótico pela mãe com outras pessoas. A criança, primeiro, vai aprender a dividir essa atenção dentro do ambiente familiar, depois na escola, com a sua turma na adolescência, com seu grupo de trabalho na idade adulta, e vai destituindo seus amores primitivos por outros. A função do pai é formar uma criança que saberá dividir e lidar com seus desejos, assim ela conseguirá conviver em sociedade de forma mais harmônica.

IHU On-Line – E quanto aos limites, qual o papel da figura paterna?


Rubens de Aguiar Maciel – A criança ou bebê quer a mãe o tempo todo, exclusivamente, não quer dividi-la com ninguém. Um fato bem exemplar é quando se observa uma criança mamando no peito. A mãe está lá, conversando com ela e, se chega alguém, a criança olha para essa pessoa, mas continua com os dentes cravados no mamilo da mãe. Em relação a esse desejo de exclusividade e essa ligação contínua, isso precisa ser limitado. É preciso que se estabeleça uma separação. Neste sentido, o pai vem como limite.

IHU On-Line – Que lacunas se abrem a partir da ausência da figura paterna?
Rubens de Aguiar Maciel – A falta do pai é sempre prejudicial. Entretanto, a mãe pode exercer certas funções paternas. Neste sentido do limite, a mãe pode exercer em relação ao filho uma separação, dizendo para ele que também tem outras responsabilidades, mesmo na ausência do pai. Já a ausência do pai, como modelo, pode trazer uma série de fantasias e consequências, mais ou menos sérias, dependendo do convívio da criança com outras figuras masculinas. Se a criança tiver uma variedade de figuras masculinas para se identificar, o problema se dilui um pouco. Se não tiver, se o convívio for apenas com a mãe ou com figuras femininas, o problema aumenta, na medida em que não tem modelos para se projetar. A criança, no entanto, pode ir pegando esses modelos com seus amigos, com os pais dos amigos, mas não é a condição mais favorável.

IHU On-Line – Que tipo de transformações o filho traz para o pai enquanto homem?
Rubens de Aguiar Maciel – O fato de ser pai desperta, em muitos homens, um senso de responsabilidade que traz muitas ansiedades, muitas dúvidas. No sentido de que o homem se pergunta se é capaz de desempenhar aquele papel de forma razoável. A minha pesquisa foi feita com pais de primeira viagem, e, quando se trata do primeiro filho, os pais não sabem o que os espera. Eles não sabem se serão capazes de prover os filhos, de manter o emprego, de ser amorosos, darem bons exemplos, e, muitas vezes, não sabem se serão capazes de ter um comportamento diferente daquele que eles tiveram com seus próprios pais. Muitos deles não concordam com a educação que tiveram, esperam dar uma educação diferente, mas não sabem se tem capacidade e flexibilidade para se modificar.

IHU On-Line – Podemos dizer que hoje os pais têm uma relação mais afetiva e próxima com os filhos?


Rubens de Aguiar Maciel – Sim, isso vem mudando. Os pais hoje se mostram muito mais interessados e participativos. Essa quantidade enorme de separações faz com que os pais convivam com seus filhos e passem os finais de semana com eles. Há uma solicitação social, uma sugestão, por parte do comportamento, de que o pai deve se manter mais próximo. Isso tudo tem favorecido uma aproximação entre os pais e os filhos. Eu diria que é um começo e que ainda há muito para se avançar, mas a reação mais íntima entre pai e filho é um fato que vem se estabelecendo.

IHU On-Line – E que aspectos explicam a mudança de comportamento na paternidade, considerando essa relação mais próxima?

Rubens de Aguiar Maciel – Há transformações sociais e econômicas, com as famílias menores, que fazem as mulheres participarem do mercado de trabalho. Faz-se necessária uma divisão das tarefas dentro do lar com o marido, que passa a conviver com filhos de uma maneira mais intensa. Há também a divulgação dos conhecimentos científicos em relação ao comportamento. É indicado que esse pai não seja ausente, frio, distante e autoritário, e que deseje simplesmente determinar o futuro dos seus filhos, dizendo a eles o que devem seguir, a nível de carreira ou de relações. O cuidado com os desejos e as necessidades dos filhos, hoje em dia, é muito maior do que no passado. Hoje, há alguns movimentos que procuram auxiliar os homens nesta tarefa de pai, ainda são poucos, mas existem grupos que se organizam no sentido de fazerem turmas de pais, de casais, onde vão discutir a questão da paternidade e do cuidado com os filhos. É algo que precisa ser incentivado e divulgado.

Pai deixou de ser símbolo do homem responsável pelo sustento financeiro da família para assumir novas funções dentro do lar; a figura paterna do século 21 se renova em sentimentos e emoções, configurando-se um exemplo de dedicação

Gilson Ribeiro Dacie e a pequena Izabela: viúvo repentinamente, pai assumiu as funções de mãe.

Ser pai sem deixar de ser amigo. Ser herói e ser exemplo. Dedicar seu tempo à família e dividir tarefas. Assim é o pai do século 21 – bem diferente daquele que se preocupava apenas em trabalhar o dia todo para garantir uma estabilidade financeira dentro de casa. Uma maneira “antiga” de amar.

Agora pai trabalha, mas também ajuda em casa. Cuida de negócios e acorda à noite para ajudar a mulher olhar o bebê que acabou de nascer. Continua se preocupando com um futuro melhor para o filho, mas não deixa de reservar um tempo para curti-lo no dia-a-dia. O que vale é estar sempre presente.

Psicólogos e sociólogos confirmam, em entrevista ao jornal BOM DIA, que os pais mudaram muito e, como conseqüência, as famílias também não são mais as mesmas. “Homem e mulher estão em um processo de divisão de funções, seja em casa, no trabalho ou nas contas a pagar. Com isso a relação pai, mãe e filhos também foi alterada”, afirma a psicóloga Tina Zampieri, 55 anos.

Segundo ela, esta igualdade de papéis aproximou a figura paterna do filho. “Os pais do século passado, por exemplo, tinham como conceito de bom pai aquele que tem um bom emprego e condições financeiras de proporcionar uma vida tranqüila para toda a família”, diz, ressaltando que ficava com as mães o dever de cuidar dos estudos, educação e dar afeto aos filhos.

“Não existia uma participação direta da figura masculina no dia-a-dia do filho, a não ser quando era preciso impor respeito e ditar regras”, afirma Tina.

Os pais davam broncas, colocavam os filhos de castigos e davam ordens. Mas quando o assunto era carinho, a maioria deixava a desejar. “Beijar um filho, homem, era algo de outro mundo”, conta.

E quando tudo mudou? Na opinião do sociólogo Ricardo Constante Martins, 35, um dos fatores que mais influenciaram na mudança do perfil do pai ficou visível há cerca de duas décadas, com a entrada das mulheres no mercado de trabalho.

“Trata-se de um fator muito forte culturalmente. As mulheres, que antes casavam, tinham filhos e ficavam responsáveis pela educação, saíram de casa para trabalhar. Com isso o homem foi forçado a assumir responsabilidades que não eram da alçada dele, forçando assim a superação de dogmas machistas”, explica Martins.

Para Tina Zampieri, foi justamente esta superação que resultou na aproximação do pai com o filho. “Eles passaram a conviver mais com a família. Participaram do crescimento dos filhos e se tornaram cada dia mais afetivos e interessados. Deixaram de lado o peso da responsabilidade pelo futuro do filho e estão mais amorosos”, diz Tina.

Até mesmo trabalho doméstico não é mais um “bicho de sete cabeças” para eles. Quantos pais por aí não cozinham por gosto? E muito melhor que as mães, diga-se de passagem. Aliás, muitos deles buscam os filhos na escola, os leva em suas atividades extracurriculares e fazem programas divertidos. Às vezes tudo isso enquanto a mãe está no trabalho.

Para Martins, a participação dos dois na vida dos filhos e a divisão de tarefas é ótima quando a família é bem estruturada. “Os filhos passam a ter duas grandes interferências e absorverão mais informações também”, afirma o sociólogo rio-pretense, acrescentado que está aí a importância da estrutura familiar.

“O pai e a mãe precisam ter idéias parecidas e concepções do que é certo ou errado. Caso nem eles mesmo entrem em um acordo, podem confundir a cabeça dos filhos”, explica Martins.

Prioridades

Quando a maioria dos jovens do século 21 começa a pensar no futuro, uma diferença enorme em relação aos jovens de décadas passadas fica perceptível. A prioridade não é mais casar e ter filhos. Em primeiro lugar, salvo algumas exceções, é a realização profissional.

“Isto explica muitas mudanças no perfil do pai. Alguns, por exemplo, deixam para experimentar a paternidade quando já estão mais maduros e estabelecidos”, afirma Tina Zampieri, lembrando que os casos de pais com mais de 40 anos já é um fato normal.

Martins acrescenta que o avanço da medicina também colabora para esta escolha de uma paternidade tardia. “Não há mais aquela pressa de ser pai ou mãe”, diz.

Legislação

Até mesmo a questão da guarda dos filhos quando um casal inicia processo de separação já não é mais como antes.

Segundo especialistas, antigamente era certo que a guarda ficaria com a mãe e o pai teria horário determinado para visitar o filho. Agora a guarda é compartilhada e, dependendo dos casos, o pai pode ser o ‘guardião’ da tutela.

“Só a existência de um fato muito grave pode fazer com que o pai tenha determinações judiciais para ver o filho. Mas isso também pode acontecer com a mãe. Até o Código Penal ”, afirma o sociólogo.

Permanências

Elas invadiram o mercado, as faculdades e amenizaram o machismo que imperava na sociedade, mas não acabaram com ele definitivamente. Queiram as mulheres ou não, o machismo ainda existe e estão explícitas na criação dos filhos.

Os homens se transformaram em pais amigos, porém não deixaram de ter um zelo especial pelas filhas mulheres – fator comum ao dos pais de todos os tempos.

Assim como nos séculos passados, a criação da filha mulher e do filho homem continua caminhando de forma diferente.

“Se um filho disser em um almoço de família que saiu com várias mulheres no dia anterior, ótimo. Se as palavras vieram da boca da filha mulher, ela será duramente criticada dentro da família”, afirma Martins.

“Podemos dizer que vivemos em uma sociedade machista light”, brinca ele, ressaltando que este é um dos poucos sinais que restaram dos pais antigos. Uma lembrança dos ancestrais que, apesar de tudo, mostra preocupação. Um amor à moda antiga, mas mesmo assim amor de pai.

Viúvo encara papel de mãe

“Ser pai é renascer de novo”. É assim, ao pé da letra, que o contador Gilson Ribeiro Dacie, 33 anos, descreve o nascimento da pequena Isabella Ribeiro e a mudança repentina em sua vida.

Casado há quase seis anos com Gislaine Godoy Ribeiro, 35, Gilson deparou com a morte de sua mulher uma semana após o parto de Isabella, hoje com três meses. Gislaine foi vítima de infecção hospitalar. Naquele momento o contador passou a ser pai e mãe. Isabella agora é sua razão de viver.

“Aprendi a dar banho, trocar fralda, decifrar o choro (se é cólica, sono ou fome) e preparar a mamadeira. O mais interessante foi que comecei a ver nela o que passei quando era criança. É maravilhoso”, afirma ele, enquanto ajeita Isabella em seu colo.

Apesar de fazer quase tudo sozinho, Gilson conta com a ajuda da mãe, dona Neuza, e das professoras da Escola Infantil Sagrado Coração. “Com dez dias coloquei ela na escolinha e levei uma bronca da pediatra. Apostei todas as minhas fichas que daria certo e, meses depois, ela concordou comigo. Foi um sucesso”.

O contador, que não pensa em mais filhos, diz que a cada dia descobre uma felicidade em ser pai. “Não há um dia que seja igual ao outro. Cada dia é um sorriso diferente. Às vezes está brava, às vezes boazinha. Acho que vai puxar a personalidade da mãe”, brinca.

E como explicar a ausência da mãe quando Isabella começar a perguntar? “Vou dizer que ela era mais importante para Deus do que para nós”, diz ele. Em seguida dá um beijo na testa de Isabella e diz ter certeza que Gislaine está olhando os dois.

Maturidade paterna

Pai aos 41 anos e por acidente, mas realizado. É assim que o jornalista Lelé Arantes, 48, descreve sua paternidade. A idéia de ter filhos já estava em seus planos, mas foi no dia do seu aniversário que ele recebeu o melhor presente: a notícia da chegada de Maria Antônia Ferreira Arantes, hoje com 6 anos.

“Sempre quis ter uma menina. Elas são mais carinhosas. A Tico (apelido carinhoso que ele deu a filha) é minha razão de viver”, afirma o escritor, que durante a gravidez da mulher, Regina Célia Ferreira, 45, acompanhou todos os exames de ultra-som e, no dia do parto, desmaiou de emoção.

A partir dali a vida de Lelé mudou. “Acompanhei o crescimento da Maria Antônia, troquei 80% das fraldas e tento, sempre que possível, estar com ela.”

Lelé diz que o fato de ter sido pai mais tarde do que o normal tem dois lados. O primeiro, considera positivo. “Tenho certeza de que, se tivesse tido filho com 25 anos, não teria curtido a Maria Antônio como curto. Quando estamos mais maduros temos muita paciência e, em se tratando de criança, isso é essencial.”

O historiador diz que já viveu tudo o que tinha para viver. “Agora o momento é dela”, afirma, ressaltando que também está no futuro um dos problemas de ser pai na maturidade.

“Depois de uma certa idade começamos a contar quanto tempo temos de vida. As vezes penso se vou estar aqui para ver ela se formar, casar e ter filhos. Peço todo dia para Deus me dar um tempinho a mais aqui para poder viver alguns momentos com ela.”

Ser pai? “A melhor coisa que está acontecendo na minha vida. Todos os dias aprendo alguma coisa diferente com a Tico. É meu tesouro”, diz o jornalista.

Amor além do gene

O engenheiro Marcelo Teixeira da Costa, 36 anos, já pensava em ser pai quando conheceu a arquiteta Germana Zanetti, 37. O sonho se realizou em um piscar de olhos e ele virou pai de João Pedro Zanetti Coser, 3, do dia para a noite. Primeiro veio a conquista, a amizade, a confiança e, em alguns meses o pequeno elegeu o engenheiro seu pai de coração.

“No início do meu namoro com Germana o João Pedro teve um pouco de dificuldade para entender o que estava acontecendo. Deixamos tudo correr naturalmente e a aproximação foi acontecendo de maneira gradativa. Primeiro ele me chamou de Marcelo, depois de tio Marcelo. Ficamos amigos”, conta.

E foi em janeiro deste ano que o engenheiro teve um dos dias mais emocionantes de sua vida. João Pedro chamou sua mãe para “bater um papo” em particular, em seu quarto. Ele costuma fazer isso de vez em quando. Em seguida saiu correndo pelo corredor da casa em direção ao quarto do casal.

“Ele parou na porta do quarto, olhou para mim e disse que queria fazer uma pergunta. Em seguida perguntou se eu era o pai dele de coração. Fiquei muito emocionado e logo respondi que sim. A reação dele foi momentânea e espontânea. Ele saiu pelos corredores da casa gritando que era feliz. Até filmamos de tão bonito que foi. Acredito que para ele foi um alívio saber que ele pode contar comigo também. Uma segurança”.

Marcelo conta que a convivência dos três é totalmente normal, como a de qualquer família feliz. Desde o dia que João Pedro tirou sua dúvida o chama de pai, papai, papaizinho. E também já pede um irmão. O casal promete atender o pedido.

Quanto ao pai legítimo, o casal explica que há pouca convivência. Ele busca o João Pedro para passar a tarde uma vez a cada 40 dias, mais ou menos. Já o casal mudou toda sua rotina e programações para estar sempre com o filho. “Sem dúvida ele é prioridade em minha vida”, garante Marcelo.

Paternidade é paixão

Ser pai na hora de educar e também na de brincar. Dar bronca quando precisar, mas também fazer bagunça. Estar ocupado e, ao mesmo tempo, sempre à disposição. Assim é a paternidade na opinião do empresário Paulo Faria, 35, pai de Jonas, 8, Júlia, 5, e Luiza, 3. “Ser pai é mais do que simplesmente colocar uma pessoa no mundo. Costumo dizer que se trata de uma missão. Uma vocação”, afirma ele, que pensa em mais filhos. “Sempre falei que teria seis filhos. Ainda não desisti da idéia”, diz o empresário, que prova que mesmo com a correria do dia-a-dia é possível ser um ‘paizão’.

“Quando chego do trabalho esqueço todos meus problemas e dedico todo meu tempo para minha família. Às vezes faço programas individuais com eles, atendendo preferências de cada um, e às vezes com toda a família. Assim mostramos a importância de terem opiniões individuais”, afirma.

Faria conta que quando ele e sua mulher, Mariana, 34, tiveram Jonas, chegaram a pensar em não ter mais filhos. Mas por pouquíssimo tempo. “Ter um filho causa um amor tão grande que pensamos ser impossível amar outra pessoa com a mesma intensidade. Parecia que íamos trair o Jonas, mas não há nada disso. Logo vieram as meninas e o amor foi tão grande quanto o que tínhamos pelo Jonas, sem preferências.”

Preocupação? Todas, mas principalmente a de formar pessoas íntegras e de caráter. “Me preocupo muito com o que passar para meus filhos. Quero deixar a eles uma herança de princípios e valores. É preciso mostrar a eles a necessidade de existir um sentido em tudo o que fazemos”, diz.

De acordo ele, essa formação de caráter já é exercitada dentro de casa. “Temos um acordo com as crianças de que para ganhar uma coisa nova elas precisam se desfazer de alguma antiga. Então, se querem um brinquedo novo, elas já sabem que terão de escolher um dos brinquedos atuais para doar”, exemplifica.

Garota celebra Dia dos Pais em dose dupla

Na casa da pequena Theodora Rafaela Carvalho da Gama, 5 anos, o Dia dos Pais é duplo. Isso porque ela é filha do casal Vasco Pedro da Gama Filho, 35, e Dorival Pereira de Carvalho Júnior, 43. Companheiros há 14 anos, homossexuais assumidos e sócios em uma escola de cabeleireiros, eles afirmam que a presença de dois pais não muda em nada a criação.

“Ela é educada, amada e tem responsabilidades como qualquer outra criança. Além disso, conta com a presença de dois pais e de figuras femininas, como a tia e a avó”, afirma Júnior, ressaltando que no ano passado, primeiro Dia dos Pais que passaram juntos, ela estava muito feliz porque tinha os dois.

E se a felicidade da menina é em dobro, Júnior também não esconde a sua. “Sempre quis ter um filho por não ter tido irmãos. A Theodora é meu maior presente”, diz. Mudanças? Todas. “A partir do momento que existe uma criança que depende de você, sua vida muda totalmente. Passei a me preocupar mais até com minha saúde por ela. Quero estar saudável para ver a Theodora crescer e ter filhos”, diz. “Hoje em dia pensamos nela sempre em primeiro lugar. É um amor incondicional, de cuidar e zelar”, explica.

Vasco afirma que os dois estão sempre se policiando para passar o melhor para a filha. “Somos reflexo para ela. Além disso, a idade de Theodora é de aprendizado, de absorver tudo o que lhe é passado. Cabe a nós ensiná-la a diferenciar o certo do errado”, diz.

Na vida de Vasco e Júnior, Theodora é o centro das atenções. “Mataria e morreria por ela”, diz Vasco.

Fonte: http://www.bomdiariopreto.com.br/index.asp?jbd=1&id=59&mat=87065

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Para muitos, comemorar um dia em que o exercicío de paternidade não existe mais, é doloroso e no mínimo cínico.

A esses homens que enchem o peito, seguram a barra com dignidade sem perder a força de lutar e reavivar o tempo conjunto com seus filhos, os parabens especiais - Voces são homens de verdade, e grandes pais acima de tudo.

As mulheres madrastas, que ficam no meio do fogo cruzado do desentedimento, das aguas acres de dores vivas de seus companheiros, ajudando a manter um sonho acordado enquanto sublimam seus próprios de famíla, um parabens não só especial mas também um agradecimento eternos desse homens.

Vamos comemorar com felicidade nossa existencia singular e a oportunidade de engrandecer esse mundo com uma nova cor de amor.

Com carinho de um outro pai na mesma situação.
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Paulo Habl
Equipe PaiLegal.net



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